Nos tempos que decorrem, rara é a criança que não é praticamente aluno a “tempo inteiro”. Raros os que não frequentam pelo menos um tipo de actividade extra-curricular; quer seja no espaço da escola ou fora dela. Do karaté à dança, do futebol ao inglês, da natação à música, o espectro é vasto e as motivações também.
Uns querem porque gostam, outros porque os pais consideram importante, outros porque, dá jeito! Fica mais um pouco na escola porque só saio do trabalho mais tarde, ou porque fica a caminho e facilita a logística. Porque parece ser já tradição da família em que todos na família fizeram,…  Umas mais compreensíveis eu outras mas todas têm impacto no dia a dia das crianças.
Há já alguns estudos efectuados acerca das actividades extra-curriculares. Estes evidenciam que as crianças frequentadoras deste tipo de actividades, apresentam um melhor desempenho académico e uma maior auto-estima e auto-conceito. No entanto, todos os estudos neste domínio, salvaguardam que o exagero no tempo e diversidade de actividades conturba esses mesmos benefícios. É necessário deixar a criança “respirar”, viver a sua infância. Ter tempo de ócio, tempo para brincar livremente, tempo para vivênciar o estar com a família sem ter nada para fazer. E tanto que se aprende assim!

A maior parte das famílias encontram-se sobrecarregadas com empregos e tarefas que lhes ocupam o dia inteiro e que terminam muito depois do final dos horários curriculares. Na maioria dos casos, são escassas ou inexistentes as alternativas para que estejam com os seus filhos quando estes terminam o período das aulas, optando por lhes proporcionar actividades extra, de forma a preencher estes tempos livres. São também frequentes os pais que estão tão obcecados com o melhor para os filhos que os inscrevem em tudo, pois acham que tudo é importante: a música, a natação, o teatro, o inglês, a dança, o futebol, a equitação… 
Será que a criança se sente feliz ao passar cerca de 5 horas na sala de aula, mais algumas horas no ATL, mais 1 hora na natação, mais 1 hora na música…? Que tempo lhe sobra para ser simplesmente criança?
Se as actividades extra-curriculares forem seleccionadas tendo em conta o gosto pessoal da criança e os seus interesses, nesse caso os objectivos são obviamente positivos. No entanto, quando a criança é “obrigada” a participar numa actividade que não tem a ver com o seu leque de interesses, será que os benefícios que daí advêm são assim tão positivos? 

Muitas vezes são os pais que escolhem as actividades que a criança vai frequentar, tendo em conta o seu próprio gosto, percurso de vida ou comodidade entre a oferta mais próxima. Outras vezes querem que eles possam vivenciar tudo aquilo que eles não puderam, o que, inconscientemente, vai sobrecarregar a criança. Nestes casos, as actividades extra-curriculares podem trazer mais transtornos do que benefícios.
Para terminar, de uma forma geral, as actividades extra-curriculares trazem benefícios, desde que seja salvaguardado o tempo de ser criança, para brincar e divertir-se. As actividades promovem a troca de experiências entre pares, a autonomia, criatividade e iniciativa, o trabalho de grupo e cooperação, a aprendizagem e o gosto por áreas de aprendizagem distintas, desde que sejam seleccionadas de acordo com os gostos da criança, e desde que sejam doseadas com conta, peso e medida!
Um outro aspecto a ter em atenção é a gestão dos tempos das actividades. Organize-se para que o seu filho não tenha de vivenciar todas as actividades durante a semana. Que de 2ª a 6ª tenha tempos livres que possam ser aproveitados para descansar e estudar. Deixe alguma para o fim de semana. Mesmo que isso lhe retire tempo para o seu descanso será garantidamente mais proveitoso para o seu príncipe ou princesa.